QUALQUER LÓGICA PODE SER ALVORADA

I –
Querer, louco ser da forma
sendo ela feia das mais feias
é a única forma de sentir
o calor das palavras soltas
como numa cabeça de sacos de batata

como excreta a devoção da vida para ver o invisível?
sendo concreta a escrita e a forma
e não existe por motivo algum a perda do futuro

no momento em que desce a flora sobre o pairal
toda a natureza desperta fogo sem mitologia, alergia
a poesia louca adentra nos cotovelos pela estrada afora
e muda o roteiro da libélula

a arte da escrita é anterior a arte de comer
nada disso é arte!

quando se tem um rojão apontado as meninas
correndo pelos olhos da esquerda pra direita
mas vontade de escrever é maior
que há de ler

as palavras me ludibriam sensato
e me fazem dizer que te amo
que se fôda!
e que bem aventuremos nas palavras lustres

penduradas na mente
esperando um estímulo interessante por bem
ou estressante por mal que as coisas hão de acontecer

cada passo escrito em poesia
é o futuro sendo introduzido
como os membros da família perdendo os dedos

e que largo seja o infinito das palavras
porque a ignorância prevalece muda e surda
ainda usa a inteligência
interpretando-a
mesmo sendo ela a fonte prematura
de uma vida abraçada numa árvore
preso a ela com uma braçadeira gigante

perdendo o peso com água gelada
e o entendimento do texto
amigo do filme
perdeu-se com o extinto chip da fonte

na sua cabeça cheetos
parente próximo
das crianças da década de 80
enrabando as paquitas do show da Xuxa

convenhamos
nada além de nós pode nos separar
a partir do momento que adentramos
o portal da imaginação livre e dali,
livre!
não estou preso a fotografias nem vídeoclipes!

não precisamos de luz
adaptamo-nos as pegadas instintivas da imaginação
e qualquer lógica pode ser alvorada


II -
lembro - te que tudo isso
sobre o olhar de um raciocínio fétido
patrocinado pela estação de tratamento de esgoto
pela fornecedora de energia elétrica

faz de novas palavras
roupagens inovadoras da sua fé figurada
como se a fé fosse uma seqüencia
de amor e retratos, caras e cheiros
e principalmente luzes sem cor

chegando do espaço
indo para o espaço

entre o pescoço e a boca
pode estar o queixo
mas o problema
é a cama em que te acalma quando deito
e deitado vejo o suor das suas mãos
e o gogó soluçando

o monstro da capivara
surgiu no happyhour engravatado de sexta-feira
oxigenado riacho dentro da bolha
encontrou seu lugar na faculdade
era sábado bem o espaço: buceto negro oco
espaço que fica dentro do bule de café
entre o big bang da mente e o delírio da alma

ou numa antena colher que atende o pedido
ou a sua fantasia de carnaval
dançando Chico no meio da semana

revendo a leitura que não leio
vejo uma luz no fim do túnel
como uma locomotiva
vejo a sombra de um maquinista
querendo dizer algo com as mãos

e meu coração apaixonado por Elvira
prima da pólvora estourava na palma
criando um espírito pipoca

encosta o pés nas mãos pra
dizer tendão tendão ao infinito
fluxo de caixa é o pensamento
fluxo de pensamento dentro de uma caixa
e cada pagina é uma porta

sim salabim na verdade salabim
evocação sim saúde ao coração
americano tosco
palavras aqui não estão
e sim seriedade e sensação