LENDO CARTAS DE RILKE PARA CASTRO ALVES

morte não é fuga
morte é ida
traduzir tal semelhança
é como uma casa destruída
a ruína formada esperança
a solidão falecida construía

no ambiente superlotado dos nascimentos
entre outras línguas personificava
a natureza na igualdade humana
e o morrer do sol tornava-se
deserto vazio
sem noites

romântico
o jovem esquecia
cartas de amor e falava em política
numa entrevista em campo verde
deitou e rolou em lama branca

no momento oportuno
empregava o boi
na cavalaria
das pombas

e com a bandeira desta alegria
nada podia permanecer em transição
o medo tomava conta do carona
que degustava
em seu crânio
uma taça de vinho

do nascer vem a forma
do renascer a reforma
e do contemporâneo a revolução
deus ainda é a razão social do patrimônio
e edifica uma função robusta

abrupta 1870 + 1970 – 2070 = 1770
é voltar a si e avaliar
a força de um todo inusitado
retornar a Cidade do México
em uma tourada gripe suína

galinheiro com a chacrinha armada
afinava seus sentimentos humanos
com a escravidão que abolia indígenas
sendo o novo povo heróico
o moderno consentimento final de tupã

o erro oprimido
defragado
com a deliberada característica do opressor
aceitáveis
nos braços esgotáveis
ao abrirem janelas e não mais alcovas

Castro Alves protagoniza a América
fatalmente
antes da idade do condor
deitado em espumas flutuantes
finda o bem e o mau
mecanicamente apaixonados

repare na harmonia errante
na escala dos ritmos
não mais na escala das vozes
e noutro movimento

esbarra na estrangeira
língua num envelope
jogando-a em seguida
numa caixa de estrelas